Há vidas que se desenham como romances serenos, outros como epopeias de coragem, e há ainda aquelas que, com versos suaves e gestos firmes, vão traçando sua história entre a doçura e o dever.
Assim é a vida de Silvânia Maria Soares Lavor de Lacerda, mulher de fibra e de fé, cujas raízes se entrelaçam com o solo quente do sertão e com os ventos atlânticos da capital paraibana.
Filha de Ivani Soares Lavor, dedicada professora, e de Francisco de Assis Lavor, Auditor Fiscal e Coletor do Estado da Paraíba, Silvânia nasceu na cidade de Conceição, no coração do Vale do Piancó. Seus primeiros passos já carregavam o compasso da travessia. Era a filha da transferência, do apego provisório, da mala pronta, da esperança constante: de Conceição a Teixeira, depois Patos, por fim João Pessoa, onde fincou raízes. A infância nômade lhe ensinou cedo que o lar não se mede em paredes, mas nos laços que se leva consigo.
Na capital, Silvânia abraçou os livros e o saber: cursou Administração de Empresas, buscando não só o diploma, mas uma ferramenta de transformação. Ali, conheceu o companheiro de vida, Francisco Ivis de Lacerda, com quem selou matrimônio em 1985. Desse amor nasceram Samya Soares Lavor e Samuel Soares Lavor, herdeiros não só do sangue, mas de valores que ela cultivou com zelo: dignidade, empatia e coragem.
Silvânia não é apenas filha, esposa e mãe: foi guardadora de sonhos coletivos. De volta a Conceição, sua juventude se entrelaça com a história de Martins Bezerra, nas campanhas que visavam o bem comum. Martins confiava em Silvânia, e com razão: ela carregava no olhar uma seriedade mansa, que é própria dos que têm vocação para o serviço público.
Serviu à FEBEM (Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor), ensinou com entusiasmo Educação Física e Matemática na Escola Maestro José Siqueira, ocupou cargos relevantes com a mesma humildade com que acolhia um aluno. Sua atuação como funcionária pública no DETRAN-PB, e mais tarde na Assistência Social do Estado da Paraíba, foi marcada por um zelo maternal: via no cidadão não um número, mas uma história.
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Está garotinha que você está vendo, é a Silvânia Maria |
Foi diretora da Escola Municipal Raimunda Leite Sobrinho, e também Secretária Municipal de Assistência Social atualmente Secretária Municipal de Educação – sempre com a convicção de que educar e assistir são dois braços da mesma missão: cuidar do outro.
Na intimidade da vida doméstica, Silvânia é mãe em tempo integral, esposa em amor constante, e leoa quando o mundo ameaçava seus filhos. Não por instinto feroz, mas por um amor que ressoa como poesia no cotidiano: "Em cada amanhecer, um passo por eles / Em cada gesto, um ninho invisível."
A fé católica sempre foi o alicerce silencioso e firme na vida de Silvânia Maria Soares Lavor de Lacerda. Forjada no calor do sertão, onde a terra é seca, mas o coração é fértil de esperança, ela aprendeu desde cedo a confiar na providência divina, mesmo quando os caminhos pareciam áridos. Nos momentos mais difíceis, quando as dores pareciam maiores que as forças, ela se voltava à oração, ao terço entre os dedos e à certeza de que Deus jamais desampara os que Nele confiam. Sua fé não era apenas devoção, mas uma prática cotidiana de resiliência e amor. Era no silêncio da igreja, nas festas dos santos, nas madrugadas de aflição entregues ao sagrado, que ela renovava sua coragem. Mulher sertaneja de alma forte, Silvânia vestiu a armadura da fé como quem sabe que, mesmo em meio à seca, florescem milagres.
Como mãe, é a própria personificação da epopeia — uma heroína cuja saga se desenrola no cotidiano, mas com a grandiosidade dos mitos antigos. Se a Grécia Antiga teve suas deusas protetoras, o sertão teve Silvânia: guardiã incansável de Samya e Samuel, alma que se agiganta diante de qualquer ameaça aos seus. Ela não apenas criou, mas formou, orientou e protegeu com um amor que não conhece hesitação. Lutou com a força de mil batalhas, não empunhando armas, mas gestos, orações, renúncias e vigilância amorosa. Seu instinto materno transcende o biológico — é visceral, corajoso, quase sagrado. Como uma leoa, rugiu quando preciso, acolheu quando necessário e nunca, jamais, deixou de lutar. Silvânia é aquela mãe cuja existência se confunde com o próprio verbo amar — firme, inteira e eterna.
Hoje, sua biografia poderia muito bem ser matéria de estudo sobre a mulher nordestina: resiliente sem perder a ternura, firme sem abrir mão da delicadeza. Silvânia Maria Soares Lavor de Lacerda é nome de travessia, de luta e de afeto em ação.
Como bem cabe às grandes mulheres, Silvânia escreveu sua história com as tintas da doação e do exemplo, nos bastidores e nos palcos da vida pública, sem jamais abandonar o centro do seu mundo: a família. E assim, entre gestos e jornadas, segue sendo farol de tantas vidas que cruzaram seu caminho — com os pés no chão e o coração pulsando feito verso.
Estas palavras singelas não pretendem conter toda a grandeza da mulher que é Silvânia Maria Soares Lavor de Lacerda, mas são um gesto de profunda admiração e respeito. São traços de uma homenagem escrita com o coração por João Vinícius Soares de Figueiredo, que teve a honra de conhecer Silvânia e, com o tempo, aprendeu a admirar sua força silenciosa, sua fé inabalável, sua inteligência prática e, sobretudo, sua ternura firme de mãe, educadora e servidora. Em cada memória compartilhada, permanece viva a certeza de que Silvânia é dessas presenças que marcam, inspiram e ensinam — um exemplo que a palavra escrita apenas toca na superfície, mas que ecoa para sempre em quem teve o privilégio de cruzar seu caminho.
Crônica de Dr. João Vinícius